Wilders

Meus primeiros 100 dias na Wildlife: os desafios da adaptação e da maternidade na pandemia

maio 08, 2021 11 MIN LEITURA Jainna

Animadora 3D em Marketing Art, Jannaina Bonacelli, fala sobre ter perseguido seu sonho de infância e os desafios da maternidade no trabalho remoto.

Oi, meu nome é Jannaina e trabalho com animação há mais de 15 anos, mas ainda hoje, quando digo que sou animadora, tem gente que me imagina fantasiada de bichinho, animando alguma festa infantil.

Ter perseguido um sonho de infância para, hoje, trabalhar exatamente com aquilo que amo – animação – é possivelmente o meu maior orgulho profissional. É uma história de quase duas décadas que, neste ano, ganhou um novo capítulo, com gostinho de paixão renovada, graças à Wildlife. 

Mas deixe-me contar desde o princípio. Nasci em São Paulo e mudei para Caraguatatuba, no litoral, por volta dos 9 anos. Meus pais abriram uma pousada, para meus avós cuidarem, mas quiz o destino, que eles largassem suas antigas profissões, e tomassem conta do negócio. Por isso, vivi na praia até meus 17 anos, quando voltei a São Paulo para fazer faculdade de Artes Visuais na FAAP. 

Sempre fui fã dos desenhos da Disney, então busquei esse curso porque um dia queria trabalhar com animação e, quem sabe, na própria Disney. Por conta disso, a faculdade não foi fácil. Eu procurava direcionar meus trabalhos para a área de animação e cartoon, mas os professores não enxergavam exatamente aquilo como Arte. Até que uma das minhas colegas, que era amiga do dono de uma produtora de animação para publicidade, se ofereceu para fazer a ponte e ver se eu gostaria de estagiar lá. A conversa foi evoluindo e eu acabei entrando na empresa, onde construí minha carreira ao longo dos últimos 16 anos.

NASCE UMA CARREIRA

Eu cheguei bem crua e aprendi praticamente tudo na produtora. Até já tinha feito algumas animações, como parte de uma matéria chamada “Multimeios” na faculdade, mas tinha sido uma experiência em que o professor falou: vai lá na biblioteca, pega um livro e… só faltou completar: “se vira!”. Consegui fazer meu primeiro curta (Nem Pouco, Nem Muito), que entrou para o Festival Anima Mundi (2004), na categoria “Animação em Curso”. Mas eu não sabia o que “pino”, “quadros chaves”, “intervalo” e “ficha de animação”, fiz tudo pelo método “straight ahead” (quando o animador desenha as poses do personagem em sequência) e deu um grande trabalho. Acho até que o pessoal da produtora gostou de mim porque isso mostrou como eu amava animação. 

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Na produtora, varar noites e trabalhar no fim de semana não eram problemas, pois eu estava satisfeita trabalhando com o que sempre sonhei. Até que a animação 2D tradicional começou a desaparecer, então comecei a trabalhar com o Flash (Software de Animação 2D Digital). Nessa época, quem também estava na produtora e me ajudou foi o Jason Tadeu, com quem aprendi muito e ficamos os dois como animadores de Flash. Depois disso, passei a fazer composição de vídeos no After Effects.

Até que veio um projeto para fazer as chamadas da série Cartoon Toonix, que era recriar todos os personagens do canal, para uma estética Toy Art (cabeçudinhos e quadrados), e me pediram pra aprender e produzir o Mapa de Textura 3D, de todos aqueles personagens. E eu adorei o desafio. 

Foram mais de 100 personagens, durante 1 ano, que trouxe o desenho e a pintura de volta pro meu dia a dia, e me fez mudar de área novamente. Na mesma época, eu comecei a estudar Animação 3D, pois minha paixão é dar vida aos personagens, e o futuro era 3D. Então no final de 2014, surgiu uma vaga no setor 3D, da mesma empresa, e consegui voltar às minhas origens.

HORA DA AVENTURA

As coisas iam bem, até que, em 2018, me tornei mãe, o que me fez perceber como as coisas têm um peso diferente para as mulheres. Eu saí de licença maternidade e, quando voltei, senti um clima diferente. Então, isso foi aos poucos me deixando infeliz, inclusive porque não via mais possibilidade de crescimento ali. 

Eis que veio a pandemia e eu comecei a enlouquecer trabalhando de casa e cuidando de um bebê de um ano e dois meses. Foi então que, aos 37 anos, voltei para Caraguá, onde poderia ter o apoio de minha mãe e minha avó para cuidar do meu filho. Eu vim achando que ia passar só 20 dias, mas acabei ficando por 8 meses. Pois a qualidade de vida que meu filho tinha, com espaços livres, áreas abertas e em contato com a natureza, não se comparavam ao que tinha em São Paulo.

Durante a semana, antes de começar a trabalhar, passeio com meu filho para ter um tempo nosso e aproveitar esse privilégio que é estar perto da praia. 

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Ele é bem apegado a mim e pede bastante atenção, às vezes fica perto de mim assistindo TV, mas tem horas em que ele só quer mesmo brincar comigo. Eu tenho dó de ficar falando não para ele. Consigo trabalhar mais tranquila depois que ele dorme.

Enquanto isso, a produtora, que não ia muito bem justamente por causa da pandemia, me colocou de férias, o que me deixou com receio de ser demitida. Foi um período bastante preocupante, até que me ligaram dizendo para eu retornar ao trabalho na segunda. Só que, no dia seguinte, eu recebi uma ligação da Wildlife oferecendo uma vaga em animação. Deu aquele frio na barriga e fiquei me perguntando: “será que devo mudar de emprego assim, no meio da pandemia?”

Comecei a pesquisar a empresa, até porque já tinha ouvido falar de muitos colegas, cerca de dez pessoas, que tinham vindo trabalhar aqui: todos eles aprovaram a experiência e, quanto mais eu descobria sobre a Wildlife, mais crescia o desejo de dizer “quero”. Bateu aquela vontade de sair da zona de conforto e experimentar algo novo. Então fiquei super empolgada e fiz as entrevistas. Recebi a proposta e aceitei, tudo isso em apenas 15 dias.

Quando você passa 16 anos numa empresa, imagina que vai chegar um momento de sair de lá, mas eu nunca pensei que isso fosse acontecer desta forma, trabalhando de casa, ainda por cima morando na praia. Me perguntava como eu ia interagir, ter contato e criar intimidade,  com as pessoas de uma nova equipe, sem nunca ter visto ninguém pessoalmente.

OS FAMOSOS 100 PRIMEIROS DIAS DE FIRMA

Foram três meses bem difíceis no início, porque eu estava há muito tempo acostumada a trabalhar com o workflow de uma empresa  e com os programas que eram usados lá. Todo esse processo na Wildlife é diferente. A começar pelo Shotgun, um software que gerencia os projetos, e unifica as equipes de efeitos visuais (VFX), animação e jogos; que eu ainda não conhecia.

Eu queria pedir ajuda, mas ao mesmo tempo sentia muita vergonha, porque não conhecia as pessoas e não queria incomodar. Mesmo assim, todo mundo sempre se colocou à disposição e, sempre que pedi apoio, fui super bem atendida, todos foram muito solícitos comigo, e hoje eu me sinto totalmente em casa.

Quando a Wildlife surgiu em minha vida, achei que precisaria voltar para São Paulo, já que a demanda de ficar online era maior, mas meus pais me ajudaram, instalando a internet em casa. Ter a família toda por perto ajudando, passar mais tempo com o meu filho… Tudo isso é gostoso, mas confesso que não vejo a hora de tudo voltar ao normal, de meu filho voltar à escola, passar menos tempo na TV e ter novamente contato com outras crianças, porque isso faz a diferença. Eu também quero estar na minha casa, com meu marido, podendo sair e ver outras pessoas. 

A mudança de emprego, obviamente, também exigiu adaptações. Antes, eu tinha horários mais flexíveis, já na Wildlife sigo mais o padrão das 10h às 19h, até porque tem mais eventos de interação, como reuniões e kick offs. Mudou também a maneira como inicio um projeto, e uma cena. Antigamente as câmeras já vinham ajustadas, e eu só tinha que me preocupar em animar elementos em cena. Mas está sendo bom aprender a animar câmeras também. Além das dinâmicas e metas para agilizar a produtividade, devido a grande quantidade de vídeos que são produzidos. E com tudo isso, já cresci muito nesses mais de 100 dias.

VANTAGENS DE SER UMA WILDER

Aqui, não sou apenas uma animadora. É possível dar ideias e sugestões para o que ficaria melhor para a cena. Isso me faz sentir mais parte da empresa, em vez de somente entregar uma cena, sem conhecer o contexto geral do filme.

Isso tem uma relação muito clara com os valores da empresa, principalmente o comprometimento. Quando temos esse tipo de abertura, mais participativa, nos tornamos uma equipe mais sólida, e empenhada em melhorar, e evoluir o time, como um todo.

Na Wildlife, nunca senti nenhuma discriminação ou pressão por ser mãe. Às vezes, meu gerente até fala para relaxar um pouco, tirar um tempo para o meu filho se for necessário. Mas não consigo, faz parte de mim, honrar meus compromissos e não ser injusta com o resto da equipe. Eu mesma vivo uma batalha interna para balancear melhor a minha dedicação tanto ao trabalho, quanto ao meu filho. Tenho uma hora certa para desligar o computador e cuidar somente dele, mas a cabeça não desliga. Por isso que não vejo a hora de voltar para o escritório, porque assim fica mais fácil separar o tempo do trabalho e o tempo para a família.

Em algum momento, cheguei a questionar se o que fazemos na Wildlife (Cinematic), era de fato necessário. Porque como animadora, quero fazer a melhor animação possível, e isso entra em conflito, com a cultura de sempre superarmos as metas de produtividade. Imaginei até que o setor poderia acabar, mas depois fui entendendo que a Wildlife preza pelas duas coisas. E hoje estamos traçando soluções que mantenham qualidade e velocidade, criando suportes, como as bibliotecas de animação.

Se há pouco mais de um ano eu estava me sentindo estagnada, aqui, ver os outros crescerem a todo momento me dá ânimo para crescer também. Além disso, como somos estimulados a traçar o plano de carreira, isso me fez voltar a ter aquele amor e paixão pelo trabalho, que andavam adormecidos.

Na Wildlife você trabalha por prazer, porque quer crescer, ou até porque a sua equipe tem um objetivo, e queremos ajudar os colegas a fazer acontecer. Aqui, cada pessoa participa de tudo, se o vídeo que entregamos foi bem, se foi mal, saber o que as outras equipes estão produzindo. Tudo isso me motiva a dar o melhor pela empresa.

Antes de entrar na Wildlife, quando lançaram o Zooba, fiquei apaixonada pela estética do jogo e seus personagens. Imaginei “nossa, como deve ser legal animar esses personagens!”. Além disso, acredito muito que este pode ser o jogo que veio para marcar gerações, pois ele conquista todas as idades: as pessoas se identificam com os personagens, de uma forma que sempre é possível ir renovando o jogo. 

Pensando grande, imaginei o Zooba virando uma série, um longa-metragem, talvez até ter  bonecos colecionáveis dos personagens, brinquedos e produtos com a marca do jogo à venda.  No meu segundo Hackathon, sugeri fazermos o que seria um episódio de uma mini-série. A galera topou, inclusive fiquei muito feliz porque pessoas que admiro embarcaram na minha ideia. Então, quando entregamos em apenas quatro dias o Zooba Mini Gags, fiquei muito orgulhosa!

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Em casa, quando o vídeo ficou pronto e eu dei play, meu filho parou na hora para prestar atenção. Ele pediu para ver de novo, e de novo, deve ter assistido umas 20 vezes na sequência. É maravilhoso ver seu filho – a pessoa que você mais ama – admirando o seu trabalho. Não é todo mundo que tem esse privilégio. Hoje, os mesmos colegas que duvidavam de mim no Colegial por eu querer trabalhar com desenho animado, me elogiam e reconhecem a minha trajetória. Não só consegui me formar com esse foco, mas também fui uma das poucas que conseguiu trabalhar realmente com aquilo que desejava. 

Wilders maio 08, 2021 Jainna